Ela viu ele sentado. Encontrou seus olhos e sorriu. REsolveu fingir que ele não era ele, que ele não era absurdamente importante. Aproximou-se e o cutucou, brincando.
- E essa camisa sedutora, hein, garanhão? Muita gente te cantando na rua? - Agradecia intimamente por não estar vermelha ainda.
O rapaz mantinha os olhos claros fixos nela, com óbvio bom-humor. Para entrar na brincadeira, cutucou-a na testa. A garota desejou poder fechar os olhos e sentir o calor daquelas mãos, mas não podia. Preferiu concentrar-se em ouvi-lo.
- Lógico que não, dãã. Só umas cinco pessoas disseram o quanto eu sou bonito. - Sorriu. Ela quis concordar, quis gritar que o amava, que o queria. Ele continuava a cutucando, até atingir suas costelas. - Você tem cosquinha? Tem?
A garota começou a rir, mesmo que não sentisse cócegas. Estar com ele a deixava feliz, e isso bastava. Ele continuava a cutucar-lhe, provocando e rindo. Depois de um tempo, parou, respirando fundo. Seus olhos brilhavam, a menina quase caiu para trás, mas disfarçou. Seu "amigo" levantou-se, segurando sua mão.
- Vem, vamos voltar para o hotel.
Andavam sem pressa e em silêncio, não precisavam de palavras, tinham um ao outro. Provavelmente pensavam no que faria depois, quando a cortina se erguesse e tivessem que voltar às suas vidas. No portão, separaram-se as mãos. Agiam como se não se conhecessem, como se o acaso tivesse feito com que entrassem juntos e nada mais. Ele foi para seu quarto e ela para o dela. Outro dia se encontrariam novamente e se olhariam como se olham pessoas em uma rua. Até o dia que a peça acabasse e pudessem enfim reconhecer um ao outro.
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