quarta-feira, 1 de setembro de 2010

{Histórias} Dreams - Sexta noite


"Contanto que eu ainda saiba que você está feliz com ela, eu estarei feliz também."

Seus olhos percorriam aquelas paredes brancas com visível inquietação. Ele tinha que estar ali, ele não tinha dito que estaria? Na verdade, não. Ele tinha escrito. Ela abaixou os olhos, a face em fogo apenas de pensar na perspectiva de falar com ele cara a cara. O fato era ridículo, mas estava ali: ela era capaz de falar com alguém que nunca vira como se fosse um grande amigo, mas não era capaz nem de se imaginar falando com ele. Passara as férias tediosas, alimentada com a esperança de vê-lo novamente. Era inútil, não conseguia encontrá-lo.

O sinal bateu, determinando o fim de suas buscas. A contragosto, arrastou-se até a sala de aula com o consolo de que suas amigas estariam lá.

Uma, duas, três aulas se passaram sem que ela houvesse gravado sequer uma única palavra. O gesto automático de apanhar o lanche deparou-se com o vazio. Para piorar a situação, esquecera a comida em casa. O dia recebeu-a para o recreio com um sorriso cinzento e triste. Maquinalmente ela dirigiu-se a uma varanda onde costumava ficar por poder ver as pessoas divertindo-se no pátio. Olhou para um lado e para o outro e sentou-se. Olhou de novo. Primeiro seu olhar captou a indesejável. Convenientemente apelidade de "chiclete" por suas amigas, era a namorada dele. E como ela não andava sem ele... Seu coração bateu mais rápido. Ele vinha em sua direção! E ao chegar bem perto, agachou-se, exibindo um sorriso estonteante. Sem hesitar, ela procurou seus olhos azuis, faminta. Estava pegando fogo, ams ainda assim foi capaz de congelar quando ele abriu a boca para falar-lhe.

- Aqui, você deixou cair lá atrás.

Lutando contra si mesma, ela pegou o objeto - um simples lápis - e agradeceu. Ele se foi. Sua amiga cutucou-a discretamente.

- Você não acha que o Benoît estava muito estranho, Jacky?

- Não era ele.

- Como não? Você quase deu um piripaque!

Jacky sorriu e balançou a cabeça negativamente.

- De raiva. Aquela besta quadrada tem o melhor cara do mundo e fica andando com um idiota qualquer.

- Se é assim, cadê ele?

- Hmmm... Ali!

Abrindo um enorme sorriso, ela apontou para as costas de um garoto que passara logo abaixo dela.

- Eu reconheceria esses ombros há metros de distância.

Foi quando ele virou-se, com brilho nos olhos e animação em sua voz.

- Ei Jacky, adivinha? Eu voltei a jogar!

- Ah, que ótimo!

- Sim, sim, e a gente fez até uma apresentação, quer ver?

O time de futebol da escola juntou-se a ele com algumas bolas e acrobacias de arrepiar. Alunos pararam suas atividades apenas para observar, boquiabertos. Uma chuva de palmas encerrou a apresentação. Jackie estava encantada, queria vê-lo, queria cumprimentá-lo, mas ele havia sumido de novo.

Suas amigas já haviam entrado na sala mesmo que o recreio ainda não tivesse acabado. Estava sozinha. Mas sem hesitar, Benoît sentou-se ao lado dela.

- E aí, gostou?

Pega de surpresa, Jacky não teve tempo nenhum de corar ou qualquer besteira dessas. Seu corpo automaticamente virou-se em direção a ele, ela sorriu, feliz em finalmente poder ver seus olhos.

- Uhum, foi bem legal... Me diz uma coisa, quem é o novo amiguinho que anda com a Patty?

- O que se faz passar por mim? Nah, meu consolo é que ele é gay.

- Ah... O sinal tocou...

- E quem se importa? - Ele sorriu de novo - Vem, vamos para biblioteca. É o promeiro dia de aula, quem vai sentir nossa falta?

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