quarta-feira, 1 de setembro de 2010

{Histórias} Dreams - Segunda noite

“Não é porque eu sei o que você sente quando os outros te deixam, nem porque eu sei o que você está pensando. É apenas... que eu estarei do teu lado, sempre.”

O vento fresco fazia farfalhar as folhas das verdejantes árvores, que sem embargos deixavam seus pequenos filhos caírem por sobre a rua de terra. O clima era descontraído e, para além das casas, quase todas feitas de madeira, viam-se campos com suas recém nascidas plantas que pareciam espreguiçar-se para fora de seu leito quente, dando bom-dia a uma vida nova. Protegidos sob a sombra das árvores, algumas crianças divertiam-se correndo atrás de uma bola de meias que já estava encardida pelo uso. Um pouco longe dali, um garoto e uma garota despontavam andando lado a lado em passos sincronizados. Eles conversavam, riam, eram a típica imagem dos melhores amigos. Aos poucos se aproximavam daqueles que brincavam, sem cessar a infinidade de risadas que os cercavam com uma alegria quase contagiante.

Destacando-se do grupo de jogadores, o mais novo de todos eles, um garotinho de olhos castanhos que carregava toda a inocência da idade dirigiu-se a passos hesitantes até a garota que se aproximava, puxando levemente a barra do vestido azul da mesma. A jovem olhou aquela pequena criança com um visível interesse em seus dois olhos cor de mel. Abrindo um sorriso quase materno em seus lábios róseos, deixou que sua voz acolhedora escapasse de sua boca.

- Sim, pois não?

- Moça, eu... Queria saber... Vocês por acaso não são... – e a palavra travava-lhe na garganta, lutando para sair. – Namorados?

A garota primeiro espantou-se, para depois olhar para seu companheiro e então finalmente devolver o olhar ao curioso, os olhos já prevendo a maré de risos que se lhe escaparia da boca. – Não, não... O que te fez pensar isso?

- É que... Vocês estão tão juntos... E mamãe e papai disseram que quando duas pessoas estão juntinhas assim... Elas estão namorando.

Frente a essa informação, os dois amigos começaram a rir em alto e bom som. O pobre garoto ficou perplexo, sem entender o que havia feito de errado, afinal, os dois “namorados” haviam começado a correr sem mais explicações, deixando-o sozinho. Eles correram, correram, correram até alcançar a colina verdejante no final da rua. Vencidos pelo som das próprias risadas, ambos deixaram-se cair no chão, um ao lado do outro. O rapaz virou-se para a garota.

- Hahahah, hahahah, você sabe que você não faz o meu tipo, né?

- Hahahahah – ela acompanhou-lhe no riso – Hahahahah, nem você faz o meu!

Ambos calaram-se, pensando em suas próprias afirmações. Elas pareciam aterradoras, colocadas daquele modo. Pareciam extremamente supérfluas, pareciam falsas. E, assustados com si mesmos, eles aproximaram-se, queriam apoio um no outro. Encontrando o calor de seus corpos, passaram a querer mais e mais. E de pouco em pouco, quiseram e encontraram a boca um do outro, beijando-se como se aquele fosse o último dia de suas vidas, beijando-se com fervor a fim de compensar a enorme imprudência que haviam deixado escapar de seus lábios. Beijaram-se como algo a mais que namorados, beijaram-se como os verdadeiros amigos que eram.

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