sábado, 18 de setembro de 2010

Tempo de imaginação



13 de fevereiro de 2010. Suécia.


A chegada no aeroporto foi calma. Um amigo, Tomas, nos esperava. Após comprar os bilhetes, saímos para esperar o ônibus que nos levaria à Stockholm-Centrum. A saída por si só era magnífica: neve por toda parte, quase surreal. Já tinha visto neve, sim, em Paris, mas não tanta quanto aquela, Deus meu! Então, chegou o ônibus. Nos instalamos no fundo. Fomos todos mudos, assistindo uma imensidão branca passar do lado de fora como se fosse um sonho.

A estação era um labirinto (mentira) de túneis. Bem grande. Um sistema diferente do sistema inglês ou francês, onde há placas apontando claramente o caminho. Lá haviam uns letreiros eletrônicos exibindo direções e o tempo de chegada do trem na plataforma. Conforme nosso amigo nos guiou, nosso trem (ou, no original, pendeltåg) era em direção Märsta. O caminho até a plataforma não me lembro, mas pouco importa. Entramos no trem. Meu pai e Tomas ficaram 'no hall', com as malas. Eu, minha mãe e meu irmão fomos sentar, ocupando uma fileira de uma "ilha" para 6 pessoas. Ele na janela, eu no corredor, minha mãe no meio. Alguém sentou na nossa frente. Foi quando minha mãe me disse "Nossa, Laura, como você tem sorte!".

No começo, eu não entendi. Meio às cegas, olhei para as pessoas que tinham acabado de entrar. Uma mãe, sentada na frente da minha. E, junto com ela, seu filho, sentado na frente do meu irmão. Normalmente, minhas bochechas iam estourar de tão vermelhas e meus olhos iam se encher de lágrimas. Mas isso não aconteceu. Eu me senti como se tivesse sido feita para aquele momento, como se nada mais importasse. Me sentia tão calma... Nossos olhos se cruzaram uma vez, e eu queria voar para aqueles céus azuis. A pele era branca, como a neve que nos cercava e os lábios roseados pareciam tão macios... De vez em quando, desviávamos o olhar. Mas sempre caíamos na tentação de olhar de novo, uma vez mais. Ele tirou as luvas e o gorro, revelando rebeldes fios dourados. Fiz o mesmo. Um comentário com sua mãe, um sorriso. Delicioso, brilhante. De vez em quando seu rosto se virava para um bando de desordeiros da "ilha" de trás, com seriedade e ceticismo. E mais uma vez nossos olhos se cruzavam.

Não sei bem se a viagem demorou pouco ou foi efeito daquela magia, do sentimento de que eu estava completa, de que era aquele o meu destino. O fato é que chegamos em Ulriksdal muito mais cedo do que eu queria. Minha mãe me avisou. Eu levantei, indo para junto do meu pai. Meus olhos tinham uma súplica que anunciavam o vazio que eu sentiria depois: venha comigo, meu príncipe, reine meu mundo. Mas o trem parou, a porta se abriu, e eu tive que sair. Sem saber seu nome, sem saber como achá-lo. Nos outros três dias, meus olhos se deleitavam com as belas paisagens e mesmo os belos rapazes, mas minha alma ansiava por poder encontrá-lo na virada da esquina, no banco do restaurante, andando nas ruas...

Até hoje, imagino milhões de encontros, com milhões de sorrisos e palavras que, provavelmente, eu não seria capaz de dizer. Me pergunto se por acaso eu tivesse quebrado a sensação do momento e deixado de lado minha timidez, poderia ter-lhe perguntado o nome, pedido o msn, alguma coisa como essa. Se hoje eu poderia conhecê-lo de cabo a rabo, se teríamos sido grandes amigos. Também me pergunto se por acaso eu voltarei a encontrá-lo. Se voltarei a sentir algo tão bom quanto eu senti, mesmo que seja com outro. Volto no passado e penso em todos os meninos que já foram grandes companheiros. Queria saber como eles estão agora, como viveram, como vivem. Se lembram de mim com a mesma felicidade que eu tenho. E este menino, será que pensa na pequena garota brasileira que um dia ele viu? Será que teve as mesmas sensações, que me procura em algum lugar?

Vou ali na janela, olhar para a estrela mais brilhante, tão brilhante quanto seus olhos, e esperar que, em algum lugar, ele esteja fazendo o mesmo. E que, dessa forma, vamos permanecer juntos, no pensamento, até que possamos de fato nos conhecer e nos amar.

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